Um estudo recente conduzido pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) acendeu um alerta sobre os impactos cognitivos do uso da inteligência artificial na produção de textos. A pesquisa comparou a atividade cerebral de três grupos: um que escreveu textos com a ajuda do ChatGPT, outro que buscou informações via Google e um terceiro que usou apenas seus próprios conhecimentos. O resultado foi claro: o grupo que utilizou a IA teve significativamente menos atividade cerebral. A análise mostrou que os usuários de modelos de linguagem apresentaram menos conexões entre diferentes regiões do cérebro, menor conectividade alfa — associada à criatividade — e menor conectividade teta, ligada à memória de trabalho. Além disso, os textos gerados com auxílio da IA tendiam a convergir para palavras e ideias comuns, revelando um efeito de homogeneização.
A constatação reforça um ponto central: a IA é uma tecnologia das médias. Grandes modelos de linguagem são treinados para identificar padrões em vastos bancos de dados. Como consequência, as respostas tendem ao consenso — e o pensamento humano, ao comodismo. Se outras tecnologias já desafiaram o papel do escritor, a IA oferece agora a possibilidade de terceirizar o raciocínio de forma quase total. O risco é evidente: tornar-nos intelectualmente mais negligentes.
No entanto, a questão não é apenas sobre o uso da IA. Vivemos em um mundo cada vez mais digital, e a neurociência aponta que o problema não está nas telas em si, mas no uso excessivo, passivo e sem critérios. O equilíbrio e a mediação ativa de adultos — sobretudo no caso de crianças e adolescentes — são essenciais para proteger o desenvolvimento cerebral.
O alerta já chegou até o entretenimento. A Pixar, por exemplo, revelou que o vilão do próximo Toy Story 5, previsto para 2026, será um tablet infantil com inteligência artificial, chamado LilyPad. A escolha do personagem toca em um ponto sensível nos debates sobre educação e neurodesenvolvimento: as telas são vilãs ou aliadas?
O cérebro humano é composto por bilhões de neurônios interconectados por sinapses. Quando somos expostos a novos estímulos, nossa rede neural se reorganiza. Esse fenômeno — conhecido como neuroplasticidade — é o que nos permite aprender ao longo da vida. No ambiente digital, jogos e atividades que exigem resolução de problemas ou pensamento estratégico contribuem para o fortalecimento dessas conexões.
Recursos como vídeos, animações e realidade virtual ativam múltiplas áreas do cérebro simultaneamente, facilitando o armazenamento e a recuperação de informações. Quando utilizados com curadoria pedagógica, equilíbrio e intencionalidade, esses recursos podem apoiar o desenvolvimento das chamadas funções executivas: memória de trabalho, atenção seletiva, planejamento e autorregulação.
Ferramentas como jogos de simulação, desafios gamificados e aplicativos educativos estimulam o raciocínio estratégico, a tomada de decisões, a persistência e o controle inibitório. Por outro lado, o uso irrestrito, desregulado e sem propósito dessas tecnologias pode comprometer o desenvolvimento de habilidades cognitivas fundamentais, especialmente em crianças e adolescentes.
Mais do que buscar uma única resposta, o debate precisa se concentrar em como essas ferramentas moldam — ou achatam — nossa forma de pensar. O desafio está em integrá-las ao cotidiano de forma crítica, com propósito e mediação, para que estimulem, e não substituam, o raciocínio humano.
**Andreia Fernandes é Especialista em Neurociência aplicada ao aprendizado e coordenadora acadêmica do Edify Education.